Eles estão entre nós: como identificar os “hereges” na igreja?

Declarações polêmicas, pensamentos e condutas não apenas questionáveis, mas que chegam a contradizer completamente doutrinas fundamentais da Bíblia Sagrada. Estas são apenas algumas características dos “hereges” que estão no seio da Igreja Cristã.

Esse artigo visa oferecer alguns elementos para que todo cristão genuinamente comprometido com a “sã doutrina” (Tito 2.1) saiba identificar os anticristos e o que a Bíblia também chama de “falsos profetas”.

Antes de seguirmos, no entanto, é importante frisar que o herege por definição não é a pessoa que nega por completo a pessoa de Deus, Jesus Cristo ou o Espírito Santo. Não estamos falando aqui de ateus, por exemplo.

A heresia é caracterizada pela distorção sobre o ensino bíblico, logo, todo herege é alguém que necessariamente crê em Deus de alguma forma, o que explica o fato de muitos estarem dentro das igrejas.

Neste artigo você irá encontrar:

Hereges entre nós

A presença de hereges dentro da Igreja não é novidade alguma. Não por acaso, o próprio Jesus e seus discípulos trataram de alertar os cristãos sobre essa realidade. Na passagem de Mateus 7:15, por exemplo, o Messias afirmou:

“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores”.

Como podemos observar, a primeira grande característica do herege é o disfarce, por isso Jesus afirmou que “eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas“, ou seja, aparentando ser um cristão genuíno, quando na verdade não é.

Isso não significa que tal pessoa esteja consciente do que faz. Ou seja, que se finge de cristão de forma proposital. Na verdade, a maioria dos anticristos que estão dentro da Igreja realmente acreditam em suas próprias ideias sobre o cristianismo, e é justamente isso o que torna difícil a identificação dos falsos profetas.

O falso profeta, termo também usado popularmente para se referir aos hereges, possui grande poder de convencimento porque ele acredita no que pensa e diz. Então, como identificá-los? Ora, Cristo e os apóstolos nos deram várias pistas sobre isso, vejamos algumas abaixo.

Características dos hereges

Em Romanos 16:17-18 está escrito: “Recomendo, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e põem obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles. Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam o coração dos ingênuos.”

Em sua suma teológica (carta aos romanos), portanto, o apóstolo Paulo destacou 4 características dos hereges, que são:

01 – Causadores de divisão

Essa característica está associada ao comportamento e ideias do falso profeta. São pessoas que não pensam na Igreja, mas em si mesmas e têm prazer em causar confusão por inúmeros motivos.

Pode ser uma confusão pela simples escolha de qual ar-condicionado comprar, ou de forma mais evidente, pela aceitação de práticas pecaminosas como algo “normal”. Esses indivíduos são capazes até de dividir uma igreja inteira e não é raro ver alguns deles fundando novas denominações para assumir a sua liderança.

O conselho de Paulo para lidar com causadores de divisão está em Tito 3:10: “Quanto àquele que provoca divisões, advirta-o uma primeira e uma segunda vez. Depois disso, rejeite-o”.

02 – Colocam obstáculo ao ensino

Sabe aquele programa de estudos semanais que visa fortalecer a fé da Igreja? Ou a campanha de oração e jejum que nunca sai do papel? Ou ainda, o convite daquele pregador para ministrar sobre questões de grande importância para a juventude?

O herege pode ser a pessoa que vai apresentar 1000 razões para nada disso acontecer.

É a pessoa que reclama e prejudica tudo o que está relacionado ao ensino bíblico, como a Escola Bíblica Dominical e o evangelismo, por exemplo. Se não estiver do seu agrado, vira motivo de crítica, e estar do seu agrado significa se desviar do ensino correto das Escrituras.

A resposta bíblica para esse tipo de anticristo está em Colossenses 2:6-7: “Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, firmados na fé, como foram ensinados, transbordando de gratidão”.

03 – Seus próprios apetites

As duas características descritas acima se explicam por uma razão: o herege vive uma fé voltada para os seus próprios interesses. É por isso que ele causa divisões e coloca obstáculos aos ensinos do Evangelho, porque o verdadeiro cristão, na verdade, serve a Cristo e não ao próprio ego.

O herege, por outro lado, é capaz de distorcer a doutrina bíblica para se adequar aos seus “apetites”, como diz Paulo. Apetites financeiros, sexuais, de fama e vaidades são alguns exemplos. Essa distorção acontece como reação às verdades absolutas do Evangelho.

Por isso está escrito em 2 Timóteo 4:3-4 que “virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.”

04 – Palavras suaves e bajulação

Muitas vezes imaginamos o herege como alguém rude, arrogante, que causa divisão e confronta a Igreja de modo explícito, mas esse não é o retrato completo da realidade. O falso cristão também pode ser uma pessoa extremamente bem educada, culta e de “palavras suaves”.

Essa característica descrita por Paulo nos remete à ideia de alguém com grande poder de persuasão, capaz de convencer seus ouvintes pela habilidade de se aproximar. É a pessoa que oferece vantagens, eleva o ego de quem está ao seu redor e sabe conquistar por meio da admiração.

Além dessas quatro características, outros dois grandes sinais que acompanham o herege é a relativização das Escrituras bíblicas como Palavra de Deus. Vejamos alguns pontos sobre isso, abaixo:

a) A Bíblia não é revelação de Deus

Para o herege, a Bíblia Sagrada não é a plena revelação de Deus, mas sim um livro que “contém” a Sua Palavra.

Obviamente não entraremos neste texto no mérito sobre a natureza da inspiração bíblica, mas partimos da perspectiva ortodoxa, a qual crê que “toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver”, conforme ensina 2 Timóteo 3:16.

O falso profeta relativiza a inspiração completa das Escrituras por uma explicação óbvia: ele precisa negar ou distorcer trechos que confrontam os seus pecados, e isso não é possível fazer sem negar a natureza divina da inspiração desses textos.

Assim, o herege trata os ensinamentos bíblicos de forma seletiva, a fim de poder adequar os seus pensamentos a um tipo de doutrina diferente da ensinada pela Palavra de Deus.

A resposta para isso está em Gálatas 1:8,9: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.”

Em 1 Coríntios 4:6 Paulo também adverte os cristãos para não adotar qualquer outra doutrina além dos ensinamentos apostólicos: “Irmãos, apliquei essas verdades a mim e a Apolo por amor de vós, para que por nosso intermédio aprendais a não ir além do que está escrito.

b) Outras fontes de autoridade

Uma vez que para o herege a Bíblia não possui a completa revelação de Deus, sendo inclusive questionável a sua plena autoridade inspirativa, é comum que tais pessoas tentem adicionar outras fontes de autoridade em seus ensinos.

É assim que livros diversos, pensadores (filósofos, por exemplo), teólogos e outras figuras de destaque ganham cada vez mais espaço na mente do ouvinte, chegando ao ponto de possuir tanto prestígio que suas influências superam os ensinamentos bíblicos.

O ouvinte vítima desse tipo de falso cristão, passa a ter a opinião de terceiros como filtro da interpretação bíblica, e não a própria Bíblia. Se por um lado essa é um característica muito comum nas seitas, no meio cristão ela se apresenta de forma muito sutil, geralmente através de líderes altamente influentes.

Observamos isso, por exemplo, quando em determinados eventos a figura do pregador/palestrante é o grande destaque, e não a Palavra de Deus. O indivíduo, sua obra e ideias são tão venerados em nível de pensamento que a sua palavra passa a ter um peso de autoridade maior do que o próprio texto bíblico.

Conclusão

Várias outras características denunciam a presença do herege no meio da igreja cristã, mas é importante notar que até isso faz parte do amadurecimento da noiva de Cristo, conforme ensina 1 Coríntios 11:19, que diz:

“Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais entre vocês são aprovados”.

Paulo diz ainda em sua carta para Tito 1:16 que quem propaga heresias, “no tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.”

Essas pessoas cedo ou tarde se auto-denunciam, pois não é possível esconder o pecado e a natureza maligna das heresias por muito tempo. A salvação não é algo sem critérios, mas pelo contrário. É necessário confissão, arrependimento e transformação de vida.

Por isso Jesus afirmou em Mateus 7:14 que “estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” Assim, quem prega uma doutrina conivente com o pecado tem grande chance de ser, na verdade, um herege aos olhos de Deus.

Aos verdadeiros cristãos, cabe seguir o conselho de Paulo a Tito: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina”. Essa doutrina “sã” é o ensino apostólico, e este ensino só é possível conhecer através da Bíblia Sagrada. Qualquer coisa além disso é indício de heresia.

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